UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE GINECOLOGIA

O Príncipe-Regente chega ao Rio de Janeiro em 7 de março de 1808. Em 2 de abril funda a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, no Hospital Militar, no morro do Castelo.

Em 1813 a Escola do Rio de Janeiro é ampliada nomeando-se Academia Médico-Cirúrgica.

Das Disciplinas, uma delas, denominada “Operações e Obstetrícia”, em certa ocasião foi dividida em uma de “Partos”, e outra de “Operações”, logo reunidas em uma só.

Na falta de estatuto próprio, adota-se o da Faculdade de Paris. Agora, dentre as disciplinas nota-se, separada da cirurgia, a de “Partos, Moléstias de Mulheres Pejadas e Paridas e de Meninos Recém-Nascidos”.

Como se vê, as mulheres não-pejadas e não paridas, bem como as meninas recém-nascidas, ainda não tinham vez.

A Faculdade muda seguidamente de sede: Hospital da Misericórdia, o Colégio dos Jesuítas, um sobrado na Rua Santa Luzia n.º 14, uma casa na Rua dos Barbonos, o antigo Recolhimento dos Órfãos da Santa Casa, também na Rua Santa Luzia, sede duradoura, de 1856 a 1918, quando, então, se transfere a sede para a praia Vermelha.

A reforma Leôncio de Carvalho, de 1879, logo modificada em 1881 e em 1882, inclui 26 disciplinas. Mantêm-se os “Partos, Moléstias de Mulheres Pejadas e de Crianças Recém-Nascidas”, mas acrescenta-se outra disciplina, a de “Clínica Obstétrica e Gynecologia” (1883). Se não se entende a duplicação obstétrica, fica de importante, para este texto, o surgimento da Ginecologia.

EM 1884, outra reforma, a do Visconde de Sabóia. Os nomes mudam; não a essência. As disciplinas de que cogitam são agora “Obstetrícia” e a “Clínica Obstétrica e Gynecológica”.

No Rio de Janeiro,na “Obstetrícia” fica Luiz da Cunha Feijó Júnior, que já vinha da Cadeira de “Partos…” e substituía seu pai, Luiz da Cunha Feijó, Visconde de Santa Isabel. Feijó permanece na Obstetrícia até 1911.

Érico Coelho é, na verdade, o primeiro professor de Ginecologia.

A sede da disciplina é transferida para a Maternidade de Laaranjeiras, hoje maternidade-escola.

Em 1913, Érico Coelho permanece na cadeira de “Clínica Obstétrica” e Augusto de Souza Brandão ocupa a de “Clínica Ginecológica”. Anos após, seu filho, Augusto Brandão Filho, lhe sucede e, em 1922, Fernando Magalhães substitui Érico Coelho.

Arnaldo de Moraes substitui Augusto Brandão Filho em 1936.

Arnaldo de Moraes torna-se a figura mais importante dos primórdios, tão tardios e tão recentes, da nossa Ginecologia. Arnaldo deu a melhor contribuição, trazendo para o nosso meio o que se fazia no estrangeiro, principalmente na Alemanha. Trazia e impunha, servido por sólida convicção e pelo exemplo de trabalhador insuperável.

Ainda sem local de trabalho, reunindo-se, Mestre e auxiliares, em torno de uma histórica “banheira” no Hospital Estácio de Sá, discutem-se os primeiros problemas de cátedra. São nomeados os primeiros assistentes: Mário Pardal e A. Felício dos Santos, e como assistentes extranumerários: Borges Valadão, Pinto Vasconcelos, J.C. Sthel Filho, Oswaldo Loureiro, Assis Pacheco, F. Victor Rodrigues, A. Aquino Salles. A aula inaugural somente foi possível a 02/09/1936, no Pavilhão de Aulas do Hospital Estácio de Sá, onde se instalou sua Clínica, com 30 leitos. Mais tarde, em 1942, foi transferida para o Hospital Moncorvo Filho.

Em 1936 o Professor Arnaldo de Moraes funda a revista Anais Brasileiros de Ginecologia, que seria durante longos anos, o órgão oficial da Cátedra.

Para o Professor Arnaldo de Moraes, a Cátedra de Ginecologia não podia limitar-se ao atendimento gera da especialidade e ao ensino curricular da fisiopatologia do aparelho genital feminino; a Ginecologia encarando a mulher como um todo teria que se relacionar com os demais setores da Medicina; e, por outro lado, teria que se subdividir e estudar com mais detalhes os diversos aspectos das ginecopatias.

Em 1942 cria-se o Consultório de Esterilidade; em1943 inaugura-se o Ateneu da Clínica, para discutir os casos e os problemas da mesma; em 1945 inauguram-se o Serviço de Roentgenterapia, o Laboratório Experimental de Ginecologia e Embriologia e o Serviço de Documentação.

Em 1947 é criado o Instituto de Ginecologia, pelo Conselho Universitário. Reza nos autos de sua criação a justificativa: “A organização dada pelo Professor Arnaldo de Moraes aos Serviços de Ginecologia do Hospital Moncorvo Filho, onde se realiza o Ensino da Cátedra de que é Titular, pela excelência dos vários laboratórios de exames e pesquisa nesse importante ramo da Medicina, de que está dotado, e sobretudo pelo caráter de investigação científica que o eminente catedrático tem sabido imprimir aos trabalhos que aí se realizam, já constitui um verdadeiro “Instituto de Ginecologia”. E é nomeado seu primeiro diretor o Professor Arnaldo de Moraes.

O Instituo e a Cátedra fundem-se então, no grande objetivo do ensino da especialidade. Prosseguem os cursos de extensão universitária sobre os vários temas, especialmente sobre câncer ginecológico. Em 1948 reúnem-se a Citologia, que já era estudada e aplicada aqui desde 1941, a Colposcopia, que teve também nesta Clínica a origem do seu estudo e projeção de seu ensino por todo o País, e a Patologia, para ser criado um dos setores mais valiosos deste Instituto, primeiro neste gênero no Brasil: o Ambulatório de Diagnóstico Precoce, chamado de “Preventivo” de Câncer.

Com todos estes setores de diagnóstico precoce do câncer, Citologia, Colposcopia, Patologia, Radio-diagnóstico, Radioterapia, Laboratório de Análises, Laboratório de Hormônios, Laboratório Experimental, consultórios de Ginecologia, de Urologia Ginecológica, de Proctologia, de Esterilidade Conjugal, de Endocrinologia, e ainda a atenção às pacientes no pré-operatório por um clínico geral e por uma psicóloga, realmente teve este Instituto condições, não por suas instalações, modestas, mas pela força de vontade, competência e trabalho constante de seu diretor e assistentes, de ser o centro de irradiação do ensino de Ginecologia por esse Brasil afora.

E isso o confirmam os inúmeros médicos, espalhados por todo  o País que aqui vieram fazer cursos ou estágios. Além disso, a autonomia do Instituto facilitando estudos e pesquisas, permitiu a expansão da especialidade, saindo de mera atenção dos doentes e ensino curricular para uma evolução científica pós-graduada, formação de bons profissionais.

Franscisco Victor Rodrigues sucedeu Arnaldo de Moraes em 1964; Victor não inovou ginecologistas. Insistia nume serviço bem-feito na hora certa, sem “faz-de-conta”, iniciando o sistema de ensino de pós-graduação lato-sensu, na forma de Residência Médica, um dos pioneiros neste País.

No Instituto, e sob protesto dos antigos, mas por omissão destes, iniciou-se novo tipo de relacionamento, cujas consequências, ultrapassando os limites do Serviço, são ainda cedo de avaliar-se: governava essencialmente com residentes. De imensa e rara cultura, tão ligado à Teologia quanto à Informática, leitor do policial Maigret, do detetive privado Poirot, como também de Teilhard de Chardin de McLuhan, estudioso da Idade Média, dos hippies e de outros movimentos da contracultura, suas indagações o levam a demorada viagem aos EUA para estudar o ensino médico e a matricular-se, já idoso na Faculdade de Filosofia.

Com sua morte, em 1972, assume a direção do Instituto o Professor Alipio Augusto Camelo.

Durante sua direção sempre se elevou o contato profissional do Instituto, que ampliou suas atividades em dezenas de cursos de graduação, pós-graduação e aperfeiçoamento, pesquisas e trabalhos publicados.

Cria o curso de pós-graduação stricto sensu: mestrado e doutorado. Forma especialistas em Cirurgia Oncológica.

Com a aposentadoria do Professor Alipio Camelo, em 11 de março de 1991, assumiu a direção o Professor Paschoal Martini Simões após concurso para professor titular de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

 

                                                                                                                                            por Paschoal Martini Simões